10 fevereiro, 2006

Doença de Chagas


A tripanossomíase americana, ou doença de Chagas – como foi chamada pelo médico brasileiro que a descreveu primeiro no começo do século vinte –, é comum em todos os 17 países das Américas Central e do Sul. Do México ao Chile, ela ameaça um quarto da população da América Latina; estima-se que 18 milhões de pessoas estejam infectadas. A doença de Chagas é a terceira enfermidade tropical mais prevalente, depois da malária e da esquistossomose.

A doença de Chagas é causada por um parasita, o Trypanosoma cruzi, transmitido aos humanos e a outros mamíferos pela picada de um inseto do qual há cerca de uma centena de espécies. A doença também pode ser transmitida por transfusão de sangue e da mãe para o filho, na gravidez.

A picada do inseto é raramente visível e normalmente não há sintomas perceptíveis durante a fase aguda. O parasita é capaz de se multiplicar no corpo por anos ou até mesmo décadas, sem que a vítima tenha consciência da infecção. Quando a fase crônica começa, normalmente já é muito tarde para o tratamento: sintomas como disfunções cardíacas ou disfunções sérias no esôfago ou no cólon podem ser irreversíveis. É portanto vital desenvolver novos métodos para detectar a doença no estágio inicial.

Os medicamentos existentes para tratar a doença de Chagas – nifurtimox e benznidazol – só são eficazes se forem usados antes das lesões dos pacientes se tornarem crônicas. Em países pobres, onde programas de detecção em massa não são viáveis e o tratamento é caro demais para ser fornecido a todos os que precisam, as crianças com menos de doze anos são normalmente as únicas tratadas. Elas têm chances bem maiores de se beneficiarem com o tratamento, já que é improvável que crianças tenham desenvolvido lesões crônicas.

Há pouquíssima pesquisa sendo desenvolvida atualmente para encontrar medicamentos menos tóxicos e mais eficazes, que possibilitariam o tratamento de pacientes com doenças de Chagas de todas as idades.

As pessoas mais afetadas pela doença de Chagas são as muito pobres, que vivem em casas de pau-a-pique, um habitat perfeito para os insetos. Apesar de serem muito caras para os países pobres, devido ao alto custo de inseticidas, as estratégias de controle do vetor são atualmente a única resposta à doença. Mas só prevenção não é o suficiente: a doença de Chagas impede o desenvolvimento econômico de países da América Latina, causando sérias deficiências e mortalidade principalmente em adultos jovens, o grupo populacional mais produtivo, que não podem ser tratados com os medicamentos existentes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as perdas econômicas causadas pela doença de Chagas em 1995 foram equivalentes a 2,5% da dívida externa inteira do continente.

Em Honduras, 1,8 milhão de pessoas mora na zona endêmica e supõe-se que 300 mil estejam infectadas com a doença de Chagas. Nas regiões montanhosas isoladas de Francisco Morazan e Yoro, as equipes de Médicos Sem Fronteiras diagnosticaram e tratam crianças infectadas com menos de doze anos e fazem uma campanha de erradicação do inseto.

Fonte: Médicos sem fronteiras