A chave da força de vontade
Cientistas descobrem que a capacidade de superar obstáculos também depende da quantidade de açúcar no sangue.
Você já se recriminou por ter voltado atrás na decisão de fumar depois de meses de heróica abstinência ou por não ter conseguido levar adiante a decisão de dar um basta ao hábito de comer duas sobremesas? A novidade é que você não está sozinho. A dificuldade de concretizar mudanças que dependam da força de vontade é um problema tão comum que começou a chamar a atenção da ciência. O que os primeiros estudos começam a revelar é que as falhas na capacidade de persistir nos propósitos vão além dos mecanismos psicológicos e podem envolver delicadas reações bioquímicas.
O psicólogo americano Roy Baumeister e seu colega Matt Gailliot, da Universidade de Amsterdã, descobriram que o poder de superar obstáculos e tentações está relacionado à quantidade de açúcar (ou glicose) circulante no sangue. Suas pesquisas revelaram que a necessidade de usar a força de vontade aciona esquemas biológicos que levam o organismo a solicitar mais “combustível” do que atividades como concentrar-se em algo. Esse combustível é a glicose, que fornece energia para o corpo. “Exercer a força de vontade é a atividade psicológica que mais consome glicose. Quando está em níveis baixos, esse poder fica de tal maneira alterado que as pessoas preferem fazer menos esforços para manter decisões”, explicou à ISTOÉ o holandês Gailliot.
As conclusões foram obtidas após um estudo feito com voluntários. Na primeira etapa, os cientistas exibiram um vídeo e pediram a parte deles que suprimissem sorrisos e outras reações faciais. Depois, mediram os níveis de glicose de cada um. Eles tinham caído entre os que haviam exercido o autocontrole para reprimir suas reações. Na fase seguinte, os voluntários tiveram de identificar a cor ou o sentido de palavras escritas com tintas de cores diferentes. Houve mais falhas na força de vontade no grupo que mostrava níveis de glicose mais baixos.
Depois da verificação, um grupo tomou limonada com açúcar (a substância faz subir rapidamente as taxas de glicose) e o outro usou adoçante (que não move os ponteiros da reserva de combustível). “Quem tomou açúcar teve performance melhor. O motivo pode ser a reposição dos teores de glicose”, acredita Baumeister. A informação é importante para pessoas que lidam com a força de vontade e a necessidade de autocontrole, como treinadores, professores e pais. “A força de vontade é como um músculo. Fica temporariamente pior depois de ser muito solicitada, mas torna-se melhor com o uso regular”, explica o pesquisador Gailliot. “No futuro, os terapeutas deverão considerar também o metabolismo na abordagem da força de vontade”, diz.
Outra cientista envolvida no estudo, Kathleen Vohs, da Universidade de Minnesota (EUA), acredita que dar risada, acessar memórias carregadas de boas emoções e ter pensamentos positivos também contribui para fortificar a força de vontade. Para ela, o segredo é recorrer a valores mais duradouros e estabelecer metas para refrear o impulso de atender à satisfação imediata. E, claro, lembrar de se imaginar esplêndida em um biquíni dali a seis meses quando estiver com água na boca diante de um pedaço de bolo de chocolate.
Fonte: Mônica Tarantino - ISTOÉ
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